Viver pelo bem que existe no mundo!

Na verdade nem deveríamos estar aqui, mas estamos. São como nas grandes histórias. As que tinham mesmo importância. Eram repletas de escuridão e perigo. E às vezes, você não queria saber o fim.... Porque como podiam ter um final feliz? Como podia o mundo voltar a ser o que era depois de tudo isso? Mas, no fim, é só uma coisa passageira, que logo se transformará. Um novo dia virá. E quando o sol brilhar, brilhará ainda mais forte. Eram essas as histórias que ficavam nas lembranças, que significavam algo. Mesmo que você fosse pequeno demais para entender o por quê. Mas acho, que entendo, sim. Agora eu sei. As pessoas dessas histórias tinham várias oportunidades de voltar atrás mas não voltavam. Elas seguiam em frente, porque tinham no que se agarrar. - E nós, no que devemos nos agarrar? No bem que existe nesse mundo, pelo qual vale a pena lutar. Senhor dos Anéis.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

QUANDO EU SABIA DEMAIS

Dark Night: www.youtube.com/embed/MclLF473XtA

Quando eu nada ou pouco sabia do mundo, trabalhava intensamente.
Minha vida era uma vida militante, dinamicamente realizadora, graças à minha feliz ignorância. 
Depois, quando cheguei a saber da verdade, quando soube que todas as coisas do mundo são apenas miragens no deserto, espelhos e enigmas, sonhos e sombras, ecos e reflexos irreais da ignota realidade - Desisti das minhas atividades, cruzei os braços, e fiz-me passivo espectador do Teu grandioso drama cósmico, Senhor do Universo...Sentia-me qual pequenina formiga no teu gigantesco Himalaia...
Que diferença havia entre agir e não-agir? Entre atividade e passividade?
Poderia, acaso, esta vil formiguinha modificar os teus imensos Himalaias?...
Para que trabalhar e lutar, se tudo corre segundo os teus eternos decretos?
Se leis imutáveis regem os teus mundos?...
Desde então, preferi ser passageiro inerte da tua máquina cósmica em vez de ser motorista ativo dessa máquina.
Desde então, desisti da minha velha mania de querer converter alguém... Converter, por que e para quê? Se, no fim, todo homem tem de seguir o caminho que segue?
Desisti também de querer aliviar os sofrimentos dos sofredores.
Aliviar, por que e para quê? Se cada devedor tem de saldar o débito do seu Karma?
Que insensatez seria se eu impedisse o devedor de solver o seu débito!
Não será melhor que cada um pague, de vez, à eterna Justiça, o que deve?
Que fique quite com a Constituição Cósmica, do que protelar essa quitação para tempos vindouros?
Deveras! Eu sabia demais...E esse “saber demais” me impedia de agir.
Só age quem sabe pouco, quem sabe muito deixa de agir... Agir é sinal de ignorância e estreita ingenuidade...Assim pensava eu...Assim vivia eu.
Só mais tarde, muito mais tarde, descobri – que sabia de menos... e por isso o meu saber me impedia de agir.
Numa estranha incubação espiritual, de muitos dias e de muitas noites, finalmente, amadureceu em mim a suprema Verdade.
Isolei-me, diuturnamente, do ambiente físico e do ambiente mental... desterrei de mim pessoas e coisas, do meu cérebro profanado, pensamentos, memórias, fantasias, converti em silencioso santuário do Infinito. A ruidosa praça pública do meu cérebro, e dentro deste grande silêncio da matéria e da mente focalizei intensamente o meu divino Eu...
Tão grande foi o calor dessa focalização, que se derreteram em mim todas as matérias-primas...e, quando tudo estava liquefeito – O meu tácito pensar, o meu ativo dinamismo ocidental e o meu passivo misticismo oriental – Então, todos os elementos, em liquefeita ignição, se fundiram numa nova unidade, que não era Aquém nem do Além, não era mera justaposição, mas algo novo, Inédito e inaudito, uma unidade orgânica, virgem, como a alvorada cósmica de um novo mundo, ainda aljofrado do orvalho noturno e um divino “fiat” creador...E dessa fusão do meu velho materialismo dinâmico e do meu novo espiritualismo místico,
Nasceu a estupenda maravilha do homem integral, da nova criatura em Cristo...
Da fusão da minha horizontal ativa e da minha vertical passiva, surgiu o emblema da universalidade, o símbolo da redenção...e eu me senti remido do meu esfalfante dinamismo, e do meu inoperante misticismo.
Entrei na atmosfera de um mundo ignoto, na zona do dinamismo passivo, da passividade dinâmica...
A minha nova mística sacralizou a minha velha dinâmica, e a minha dinâmica vigorizou a minha nova mística...
Hoje sou mais dinâmico do que nunca, mas o meu agir é diferente daquele, não é ruidoso como o martelar de uma fábrica dominada por fumegantes chaminés – Mas é silencioso como a luz solar, como o agir do gigantesco astro, Assaz, poderoso para lançar pelo espaço, estupendos sistemas planetários, e assaz carinhoso para beijar as pétala duma flor sem as lesar...
O meu agir é misticamente dinâmico, e dinamicamente místico. Um agir pelo não-agir. Um agir pelo Ser, brota duma dimensão ignota – Da zero dimensão do Infinito.
Anteontem, a ignorância me fizera ativo. Ontem, a mística me fizera passivo – Hoje, a experiência cósmica me faz ativamente passivo, e passivamente ativo.

A Voz do Silêncio - Huberto Rohden