Viver pelo bem que existe no mundo!

Na verdade nem deveríamos estar aqui, mas estamos. São como nas grandes histórias. As que tinham mesmo importância. Eram repletas de escuridão e perigo. E às vezes, você não queria saber o fim.... Porque como podiam ter um final feliz? Como podia o mundo voltar a ser o que era depois de tudo isso? Mas, no fim, é só uma coisa passageira, que logo se transformará. Um novo dia virá. E quando o sol brilhar, brilhará ainda mais forte. Eram essas as histórias que ficavam nas lembranças, que significavam algo. Mesmo que você fosse pequeno demais para entender o por quê. Mas acho, que entendo, sim. Agora eu sei. As pessoas dessas histórias tinham várias oportunidades de voltar atrás mas não voltavam. Elas seguiam em frente, porque tinham no que se agarrar. - E nós, no que devemos nos agarrar? No bem que existe nesse mundo, pelo qual vale a pena lutar. Senhor dos Anéis.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

FELICIDADE

A felicidade não dura muito tempo. Talvez uma manhã, uma tarde, uma noite, dois dias. É mais intensidade do que duração. Se você não tira o riso do rosto, é plástica ou está fingindo. Esconde a melancolia e se esforça para disfarçar. Felicidade não é obsessão. Felicidade é se contentar com o que não deu certo também. É a impossibilidade da frustração, é o antônimo da culpa. Uma criança entende mais de felicidade porque não a entende. O adulto, ao desejar ser feliz, já perde metade da felicidade (e a saudade rouba a segunda metade). Felicidade é estar sensível, disponível, atento a qualquer distração; é uma predisposição a mudar de planos. É uma vida que não depende de um objetivo para ser plena. É combinar um cinema, declinar e ficar satisfeito por estar com a mulher no sofá. É desistir de uma festa e se orgulhar de um jantar caseiro. É marcar o alarme e dormir de conchinha mais vinte minutos. Felicidade é preguiça. Não tem a ver com trabalho. É se divertir, de forma inédita, com o que já realizou centenas de vezes. É se contentar com pouco, quase nada, é querer somente o que já se tem. É absolutamente sem motivo, sem planejamento. A felicidade é a falta do que fazer bem feita. Não é pensar naquilo que não conseguimos, é agradecer o que redescobrimos. É quando sua alma está com o Bluetooth ativo para outras almas e é capaz de receber amizades sem mediação. Eu até diria que a felicidade é uma liberdade a dois. Não se revela na emanação larga dos lábios e na sanfona dos dentes. Quando o riso é redondo, perfeito, completo é um riso falso, riso para enganar, riso de proteção, riso para afastar intimidade. O autêntico riso é imperfeito, infantil, retangular, carente, envergonhado. Pede o complemento de um abraço ou de um beijo. Aliás, a gente ri mais com olhos do que com a boca. Já a gente chora mais com a boca do que com os olhos. Quem é feliz tem um brilho macio nas pupilas. Há uma luminosidade no olhar que chama portas e janelas. Quem é triste não cansa de rir e procura piada em tudo. Não se pode ser feliz sempre.

Fabrício Carpinejar