Este Livro Eletrônico, além de uma leitura deliciosa, oferece um enriquecimento espiritual e uma visão de beleza inigualáveis. Contém a essência da sabedoria oriental captada e transmitida por Khalil Gibran neste livro fascinante. Sua leitura não lhe tomará mais do que alguns “minutinhos” de cada vez, mas seus pensamentos estimulantes o acompanharão por muito tempo.
Nestes tempos modernos em que o egoísmo exacerbado, a concorrência feroz, o automatismo, a solidão moral, a insensibilidade, a violência afetam muito mais nossas almas do que
nossos corpos, a leitura deste Livro é uma fonte inesgotável de inspiração e de serenidade.
Gibran, no dizer de Austregésilo de Athaide “é um desses mestres da sabedoria que ensinam a arte de viver pela conquista da paz interior nutrida na contemplação da beleza, num estilo ao mesmo
tempo cheio de vida e simplicidade, cuja fonte é a natureza em suas inspirações mais límpidas e amáveis.”
Tudo isto é o que lhe oferece este pequeno livro, único e incomparável, além de uma atmosfera elevada onde nos sentimos superiores a todas as misérias e também o conforto moral
numa época de angústia e perplexidade. Esperamos que ele seja do seu agrado e lhe sirva para trazer um pouco mais de luz à sua vida. Um livro que inspira e reconforta numa época de perplexidade.
nossos corpos, a leitura deste Livro é uma fonte inesgotável de inspiração e de serenidade.
Gibran, no dizer de Austregésilo de Athaide “é um desses mestres da sabedoria que ensinam a arte de viver pela conquista da paz interior nutrida na contemplação da beleza, num estilo ao mesmo
tempo cheio de vida e simplicidade, cuja fonte é a natureza em suas inspirações mais límpidas e amáveis.”
Tudo isto é o que lhe oferece este pequeno livro, único e incomparável, além de uma atmosfera elevada onde nos sentimos superiores a todas as misérias e também o conforto moral
numa época de angústia e perplexidade. Esperamos que ele seja do seu agrado e lhe sirva para trazer um pouco mais de luz à sua vida. Um livro que inspira e reconforta numa época de perplexidade.
DA CHEGADA DO NAVIO
AL-MUSTAFA, o Eleito e o Bem-Amado, que era uma aurora em seu próprio dia, esperava havia doze anos, na cidade de Orphalese, o regresso de seu navio que o levaria de volta à ilha onde nascera.
E no ano décimo segundo, ao sétimo dia de Ailul, o mês da colheita, galgou o monte fora da cidade e olhou para o mar; e deparou com o navio chegando com a névoa.
Então, as portas de seu coração abriram-se, e sua alegria voou longe sobre o mar. E, fechando os olhos, orou no silêncio de sua alma.
Mas ao descer o monte, foi invadido pela tristeza, e pensou no seu coração:
“Como poderei ir-me em paz e sem pena? Não, não será sem um ferimento na alma que deixarei esta cidade.
Longos foram os dias de amargura que passei dentro de suas muralhas, e longas as noites de solidão; e quem pode despedir-se sem tristeza de sua amargura e de sua solidão?
Muitos foram os pedaços de minha alma que espalhei nestas ruas, e muitos são os filhos de minha ansiedade que caminham, desnudos, entre estas colinas, e não posso abandoná-los sem me sentir oprimido e entristecido.
Não é uma simples vestimenta que dispo hoje, mas a própria pele que arranco com minhas mãos.
E não é um mero pensamento que deixo atrás de mim, mas um coração enternecido pela fome e a sede.
Contudo, não posso demorar-me por mais tempo.
O mar, que chama a si todas as coisas, está-me chamando, e devo embarcar.
Pois permanecer aqui, enquanto as horas se queimam na noite, seria congelar-me e cristalizar me num molde.
De bom grado levaria comigo tudo o que aqui está. Mas como fazê-lo?
A voz não leva consigo a língua e os lábios que lhe deram asas.
É isolada que deve procurar o éter.
É também só, e sem o ninho, que a águia voa rumo ao sol.”
E quando atingiu o sopé da colina, virou-se novamente para o mar e viu seu navio aportar e, no convés, agruparem-se os marinheiros, os homens de sua terra natal.
E sua alma gritou e disse-lhes:
“Filhos de minha velha mãe, que correis na crista das vagas impetuosas.
Quantas vezes navegastes nos meus sonhos. E agora chagais ao meu despertar, que é meu sonho mais profundo.
Disposto encontrais-me a partir, e minha impaciência, de velas desfraldadas, está à espera do vento.
Tomarei apenas mais um hausto de ar neste recanto sereno, volverei para trás somente mais um olhar afetuoso.
E, logo após, juntar-me-ei a vós, marujo entre marujos.
E tu, vasto mar, mãe sempre acordada, Que, sozinho, és paz e liberdade para o rio e o regato,
Uma só volta fará ainda esta corrente, um só murmúrio sussurará ainda nesta clareira, Depois, virei a ti, gota ilimitada a um oceano ilimitado.”
E enquanto caminhava, viu homens e mulheres abandonando suas hortas e vinhedos e apressarem-se rumo às portas da cidade.
E ouviu-os chamarem seu nome e anunciarem de campo a campo, uns aos outros, a chegada de seu navio.
E disse consigo mesmo:
“Será, acaso, o dia da separação o dia do encontro? E será dito que meu anoitecer era, na verdade, minha aurora?
E o que oferecerei àquele que deixou seu arado no meio do rego e àquele que imobilizou a roda de seu lagar?
Converter-se-á meu coração numa árvore de abundantes frutos que colherei e lhes
distribuirei?
E correrão meus desejos como um manancial onde lhes encherei os copos?
Sou, acaso, uma harpa para que em mim toque a mão do Onipotente, ou uma flauta para que Seu sopro me atravesse?
Um ser em procura de silêncios, eis o que sou, e que tesouros tenho descoberto nos meus silêncios que possa distribuir com segurança?
Se este é o dia de minha colheita, em que campos plantei a semente, e em que estações esquecidas?
Se esta é, na verdade, a hora de levantar minha lanterna, a chama que nela brilhará não será minha.
Vazia e apagada erguerei minha lâmpada.
E o guardião da noite a abastecerá de azeite e a acenderá também.”
Essas coisas, ele as expressou em palavras. Mas muitas outras permaneceram inexpressas no seu coração. Pois nem ele podia externar seu segredo mais profundo.
E quando entrou na cidade, o povo inteiro o recebeu, e todos estavam clamando seu nome numa só voz.
E os anciãos da cidade aproximaram-se e disseram:
“Não nos deixes ainda.
Foste um meio-dia em nosso crepúsculo, e tua juventude deu-nos sonhos para sonhar.
Não és um estrangeiro nem um hóspede entre nós, mas nosso filho e nosso bem-amado.
Não condenes ainda nosso olhar a sofrer a fome de tua face.”
E os sacerdotes e as sacerdotisas disseram-lhe:
“Não consintas que as ondas do mar nos separem e que os anos que conosco passaste se tornem uma lembrança.
Andaste entre nós como um espírito, e tua imagem tem sido uma luz que nos iluminou as faces.
Muito te temos amado. Mas silencioso foi nosso amor, e com véus tem estado coberto.
Agora, porém, ele grita e chama-te em alta voz e quer revelar-se a ti.
Pois assim tem sido sempre com o amor: ele só conhece a sua profundidade na hora da separação.”
E outros vieram também e imploraram-lhe. Mas ele não lhes respondeu. Baixou apenas a cabeça. E os que o rodeavam viram lágrimas caírem sobre seu peito.
E caminhando com o povo, chegou à grande praça em frente ao templo.
E uma mulher chamada Almitra saiu do santuário. E ela era vidente.
E ele a encarou com excessiva ternura, pois fora ela a primeira a procurá-lo e nele crer no dia de sua chegada à cidade.
E ela o saudou, dizendo:
“Profeta de Deus em procura do infinito, quantas vezes sondaste as distâncias à espera de teu navio.
E agora teu navio chegou, e tu deves partir.
Profunda é tua nostalgia pela pátria de tuas recordações e a morada de teus desejos maiores; e nosso amor não te quer prender, nem nossas necessidades te reterem.
Uma coisa, porém, pedimos-te: antes de nos deixares fala-nos e dá-nos de tua verdade.
E nós a transmitiremos a nossos filhos, e eles a transmitirão aos seus filhos, e ela não perecerá.
Na tua soledade, vigiaste por nossos dias e, na tua vigília, escutaste os gemidos e os risos de nosso sono.
Agora, revela-nos a nós próprios, e conta-nos o que te foi dado descobrir do que existe entre o nascimento e a morte.”
E ele respondeu:
“Povo de Orphalese, de que poderia falar-vos senão do que está agora se movendo dentro de vossas almas?”
AL-MUSTAFA, o Eleito e o Bem-Amado, que era uma aurora em seu próprio dia, esperava havia doze anos, na cidade de Orphalese, o regresso de seu navio que o levaria de volta à ilha onde nascera.
E no ano décimo segundo, ao sétimo dia de Ailul, o mês da colheita, galgou o monte fora da cidade e olhou para o mar; e deparou com o navio chegando com a névoa.
Então, as portas de seu coração abriram-se, e sua alegria voou longe sobre o mar. E, fechando os olhos, orou no silêncio de sua alma.
Mas ao descer o monte, foi invadido pela tristeza, e pensou no seu coração:
“Como poderei ir-me em paz e sem pena? Não, não será sem um ferimento na alma que deixarei esta cidade.
Longos foram os dias de amargura que passei dentro de suas muralhas, e longas as noites de solidão; e quem pode despedir-se sem tristeza de sua amargura e de sua solidão?
Muitos foram os pedaços de minha alma que espalhei nestas ruas, e muitos são os filhos de minha ansiedade que caminham, desnudos, entre estas colinas, e não posso abandoná-los sem me sentir oprimido e entristecido.
Não é uma simples vestimenta que dispo hoje, mas a própria pele que arranco com minhas mãos.
E não é um mero pensamento que deixo atrás de mim, mas um coração enternecido pela fome e a sede.
Contudo, não posso demorar-me por mais tempo.
O mar, que chama a si todas as coisas, está-me chamando, e devo embarcar.
Pois permanecer aqui, enquanto as horas se queimam na noite, seria congelar-me e cristalizar me num molde.
De bom grado levaria comigo tudo o que aqui está. Mas como fazê-lo?
A voz não leva consigo a língua e os lábios que lhe deram asas.
É isolada que deve procurar o éter.
É também só, e sem o ninho, que a águia voa rumo ao sol.”
E quando atingiu o sopé da colina, virou-se novamente para o mar e viu seu navio aportar e, no convés, agruparem-se os marinheiros, os homens de sua terra natal.
E sua alma gritou e disse-lhes:
“Filhos de minha velha mãe, que correis na crista das vagas impetuosas.
Quantas vezes navegastes nos meus sonhos. E agora chagais ao meu despertar, que é meu sonho mais profundo.
Disposto encontrais-me a partir, e minha impaciência, de velas desfraldadas, está à espera do vento.
Tomarei apenas mais um hausto de ar neste recanto sereno, volverei para trás somente mais um olhar afetuoso.
E, logo após, juntar-me-ei a vós, marujo entre marujos.
E tu, vasto mar, mãe sempre acordada, Que, sozinho, és paz e liberdade para o rio e o regato,
Uma só volta fará ainda esta corrente, um só murmúrio sussurará ainda nesta clareira, Depois, virei a ti, gota ilimitada a um oceano ilimitado.”
E enquanto caminhava, viu homens e mulheres abandonando suas hortas e vinhedos e apressarem-se rumo às portas da cidade.
E ouviu-os chamarem seu nome e anunciarem de campo a campo, uns aos outros, a chegada de seu navio.
E disse consigo mesmo:
“Será, acaso, o dia da separação o dia do encontro? E será dito que meu anoitecer era, na verdade, minha aurora?
E o que oferecerei àquele que deixou seu arado no meio do rego e àquele que imobilizou a roda de seu lagar?
Converter-se-á meu coração numa árvore de abundantes frutos que colherei e lhes
distribuirei?
E correrão meus desejos como um manancial onde lhes encherei os copos?
Sou, acaso, uma harpa para que em mim toque a mão do Onipotente, ou uma flauta para que Seu sopro me atravesse?
Um ser em procura de silêncios, eis o que sou, e que tesouros tenho descoberto nos meus silêncios que possa distribuir com segurança?
Se este é o dia de minha colheita, em que campos plantei a semente, e em que estações esquecidas?
Se esta é, na verdade, a hora de levantar minha lanterna, a chama que nela brilhará não será minha.
Vazia e apagada erguerei minha lâmpada.
E o guardião da noite a abastecerá de azeite e a acenderá também.”
Essas coisas, ele as expressou em palavras. Mas muitas outras permaneceram inexpressas no seu coração. Pois nem ele podia externar seu segredo mais profundo.
E quando entrou na cidade, o povo inteiro o recebeu, e todos estavam clamando seu nome numa só voz.
E os anciãos da cidade aproximaram-se e disseram:
“Não nos deixes ainda.
Foste um meio-dia em nosso crepúsculo, e tua juventude deu-nos sonhos para sonhar.
Não és um estrangeiro nem um hóspede entre nós, mas nosso filho e nosso bem-amado.
Não condenes ainda nosso olhar a sofrer a fome de tua face.”
E os sacerdotes e as sacerdotisas disseram-lhe:
“Não consintas que as ondas do mar nos separem e que os anos que conosco passaste se tornem uma lembrança.
Andaste entre nós como um espírito, e tua imagem tem sido uma luz que nos iluminou as faces.
Muito te temos amado. Mas silencioso foi nosso amor, e com véus tem estado coberto.
Agora, porém, ele grita e chama-te em alta voz e quer revelar-se a ti.
Pois assim tem sido sempre com o amor: ele só conhece a sua profundidade na hora da separação.”
E outros vieram também e imploraram-lhe. Mas ele não lhes respondeu. Baixou apenas a cabeça. E os que o rodeavam viram lágrimas caírem sobre seu peito.
E caminhando com o povo, chegou à grande praça em frente ao templo.
E uma mulher chamada Almitra saiu do santuário. E ela era vidente.
E ele a encarou com excessiva ternura, pois fora ela a primeira a procurá-lo e nele crer no dia de sua chegada à cidade.
E ela o saudou, dizendo:
“Profeta de Deus em procura do infinito, quantas vezes sondaste as distâncias à espera de teu navio.
E agora teu navio chegou, e tu deves partir.
Profunda é tua nostalgia pela pátria de tuas recordações e a morada de teus desejos maiores; e nosso amor não te quer prender, nem nossas necessidades te reterem.
Uma coisa, porém, pedimos-te: antes de nos deixares fala-nos e dá-nos de tua verdade.
E nós a transmitiremos a nossos filhos, e eles a transmitirão aos seus filhos, e ela não perecerá.
Na tua soledade, vigiaste por nossos dias e, na tua vigília, escutaste os gemidos e os risos de nosso sono.
Agora, revela-nos a nós próprios, e conta-nos o que te foi dado descobrir do que existe entre o nascimento e a morte.”
E ele respondeu:
“Povo de Orphalese, de que poderia falar-vos senão do que está agora se movendo dentro de vossas almas?”