Viver pelo bem que existe no mundo!

Na verdade nem deveríamos estar aqui, mas estamos. São como nas grandes histórias. As que tinham mesmo importância. Eram repletas de escuridão e perigo. E às vezes, você não queria saber o fim.... Porque como podiam ter um final feliz? Como podia o mundo voltar a ser o que era depois de tudo isso? Mas, no fim, é só uma coisa passageira, que logo se transformará. Um novo dia virá. E quando o sol brilhar, brilhará ainda mais forte. Eram essas as histórias que ficavam nas lembranças, que significavam algo. Mesmo que você fosse pequeno demais para entender o por quê. Mas acho, que entendo, sim. Agora eu sei. As pessoas dessas histórias tinham várias oportunidades de voltar atrás mas não voltavam. Elas seguiam em frente, porque tinham no que se agarrar. - E nós, no que devemos nos agarrar? No bem que existe nesse mundo, pelo qual vale a pena lutar. Senhor dos Anéis.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

CONVERSANDO COM OSHO

Rajneesh Chandra Mohan Jain ou mundialmente conhecido como Osho, foi mestre na arte da meditação e do despertar da consciência. Não se considerava um filósofo, mas um místico.

Osho, você disse que os psicólogos ocidentais dizem agora, que é melhor não evitar as brigas num relacionamento amoroso e que encará-las, quando surgem, torna o amor mais intenso. Então, Você falou do caminho do meio de Buda, que exclui ambos os extremos. Para aqueles que ainda não transcenderam para dentro do amor que está além dos dois pólos. Qual caminho é o preferível para os amantes, em Sua opinião?

Alguns pontos básicos. Em primeiro lugar, o amor da mente está fadado a ser um movimento entre os dois pólos opostos de ódio e amor. Com a mente, a dualidade fatalmente estará presente. Assim, se você está amando alguém com a sua mente, você não pode escapar do outro pólo. Você pode escondê-lo, você pode reprimi-lo, você pode esquecê-lo – as assim chamadas pessoas educadas estão sempre fazendo isso. Mas, então, elas se tornam entorpecidas, mortas.

Se você não pode brigar com seu amado, se você não pode ficar com raiva, então, a autenticidade do amor é perdida. Se você reprimir sua raiva, essa repressão da raiva se tornará uma parte de você e essa raiva reprimida não lhe permitirá uma entrega total ao amar. Ela estará sempre presente. Você a está segurando; você a reprimiu.

Se eu estou com raiva e a reprimo, então, quando eu estiver amando, a raiva reprimida estará presente e isso matará o meu amor. Se eu não fui autêntico em minha raiva, eu não posso ser autêntico em meu amor. Se você é autêntico, então, você é autêntico em ambos. Se você não é autêntico em um, você não pode ser autêntico no outro.

Por todo o mundo, os assim chamados ensinamentos – a civilização, a cultura –, enfraqueceram o amor completamente. E em nome do amor, isso aconteceu. Eles dizem: “Se você ama alguém, então, não fique com raiva; seu amor é falso se você está com raiva. Então, não brigue; então, não odeie.”.

Naturalmente, isso parece lógico. Se você está amando, como você pode odiar? Assim, nós eliminamos a parte que odeia. Mas, com a eliminação da parte que odeia, o amor se torna impotente. É como se você tivesse cortado uma perna de um homem e, então, dissesse: “Agora, ande! Agora, você pode correr, você está livre para correr.”. Mas você cortou uma perna; assim, o homem não pode andar.

Ódio e amor são dois pólos de um fenômeno. Se você cortou o ódio, o amor estará morto e impotente. É por isso que toda a família se tornou impotente. E então, você se torna temeroso de se entregar. Quando você está amando, você não pode se entregar completamente, porque você está com medo. Se você se entregar completamente, a raiva, a violência, o ódio que estão escondidos e reprimidos podem aparecer. Então, você tem de forçá-los para baixo continuamente. Bem no fundo, você tem de lutar com eles continuamente. E lutando com eles, você não pode ser natural e espontâneo. Então, você apenas representa que está amando. Você aparenta e todo mundo sabe: sua esposa sabe que você está representando e você sabe que sua esposa está representando. Todo mundo está representando. Então, toda a vida se torna falsa.

Duas coisas devem ser feitas a fim de se ir além da mente. Primeira: entre na meditação e, então, toque o nível da não-mente dentro de você. Então, você terá um amor que não terá nenhum pólo oposto. Mas, então, nesse amor, não haverá nenhum excitamento, nenhuma paixão. Esse amor será silencioso – uma profunda paz sem uma ondulação sequer.

Um Buda, um Jesus também amam. Mas nesse amor não existe nenhum excitamento, nenhuma exaltação. A exaltação vem do pólo oposto, o excitamento vem do pólo oposto. Dois pólos opostos criam tensão. Mas o amor de Buda, o amor de Jesus é um fenômeno silencioso; assim, somente aqueles que alcançaram o estado da não-mente podem entender o amor deles.

Jesus estava passando e a noite estava quente. Ele estava cansado, então, ele descansou embaixo de uma árvore. Ele não sabia a quem a árvore pertencia. Ela pertencia a Maria Madalena. Maria era uma prostituta.

Ela olhou de sua janela e viu aquele homem muito belo – um dos mais belos jamais nascidos. Ela se sentiu atraída e não somente atraída, ela se sentiu apaixonada. Ela saiu e perguntou a Jesus: “Venha para a minha casa. Por que você está descansando aí? Você é bem-vindo.”.

Jesus viu em seus olhos paixão, amor – o assim chamado amor. Jesus disse: “Da próxima vez, quando eu estiver cansado novamente, ao passar por aqui, eu irei à sua casa. Mas, neste momento, a necessidade está preenchida. Eu já estou pronto para caminhar novamente; assim, eu lhe agradeço.”.

Maria se sentiu insultada. Isso era raro... realmente, ela nunca tinha convidado ninguém antes. As pessoas vinham de longe só para vê-la. Até mesmo reis vinham a ela, e ali estava aquele mendigo recusando-a. Jesus era apenas um mendigo, um vagabundo – apenas um hippie, e ele a recusou. Assim, Maria disse para Jesus: “Você não pode sentir o meu amor? Isso é um convite amoroso. Então, venha! Não me rejeite. Você não tem nenhum amor no seu coração?”

Jesus lhe disse em resposta: “Eu também a amo – e, na verdade, todos aqueles que chegam fingindo que a amam, não a amam realmente.” – ele disse – “Somente eu posso amá-la.”.

E ele estava certo. Mas esse amor tem uma qualidade diferente. Esse amor não tem o pólo oposto, o contraste. Assim, a tensão está ausente, a excitação está ausente. Ele não está excitado com o amor, não está exaltado. E o amor não é um relacionamento para ele, é um estado de ser.

Vá além da mente; alcance o nível da não-mente. Então, o amor floresce, mas esse amor não tem oposição. Além da mente não há oposição a nada. Além da mente, tudo é um. Dentro da mente, tudo está dividido em dois. Mas, se você está dentro da mente, é melhor ser autêntico do que ser falso.

Assim, seja autêntico quando você sentir raiva de seu amado, ou de sua amada. Seja autêntico quando você está com raiva e, então, sem nenhuma repressão, quando o momento do amor chegar, quando a mente se mover para o outro extremo, você terá um fluxo espontâneo. Assim, com a mente, tome a luta como uma parte dela. É o próprio dinamismo da mente, funcionar em pólos opostos. Assim, seja autêntico em sua raiva, seja autêntico em sua luta; então, você será autêntico em seu amor também.

Assim, para os amantes, eu gostaria de dizer: sejam autênticos. E se vocês forem autênticos, um fenômeno único acontecerá: vocês ficarão saturados de todo esse absurdo de se movimentar em pólos opostos. Mas sejam autênticos; do contrário, vocês nunca se tornarão saturados.

Uma mente reprimida nunca deixa a pessoa se tornar realmente consciente de que ela está agarrada em pólos opostos. Ela nunca está realmente com raiva, ela nunca está realmente amando; assim, ela não tem experiência real da mente. Assim, eu sugiro ser autêntico. Não seja falso. Seja real! E a autenticidade tem sua própria beleza. Seu amado, sua amada compreenderão quando você estiver realmente com raiva – autenticamente com raiva. Somente uma raiva fingida, ou uma falsa não-raiva, não pode ser perdoada. Somente uma face falsa não pode ser perdoada. Seja autêntico e, então, você será autêntico no amor também. Esse amor autêntico compensará e através desse viver autêntico, você se tornará saturado. Você chegará a se surpreender com o que você está fazendo – por que você é apenas um pêndulo movendo-se de um pólo ao outro? Você ficará entediado e, somente então, você poderá decidir mover-se além da mente e além da polaridade.

Seja um homem autêntico, ou seja uma mulher autêntica. Não permita nenhuma falsidade, não finja. Seja real e sofra a realidade. O sofrimento é bom. O sofrimento é realmente um treinamento, uma disciplina. Sofra! Sofra a raiva e sofra o amor e sofra o ódio. Lembre-se somente de uma coisa: nunca seja falso. Se você não sente amor, então, diga que você não sente amor. Não finja; não tente mostrar que você está amando. Se você está com raiva, então, diga que está com raiva e fique com raiva.

Existe uma possibilidade de um amor que não tem oposto a ele, mas esse amor pode vir somente quando você vai além daquele amor. E para ir além, eu sugiro que você seja autêntico. Seja autêntico – no ódio, no amor, na raiva, em todas as coisas, seja autêntico: real, sem fingir, porque somente uma realidade pode ser transcendida. Você não pode transcender coisas irreais.

Osho, O Livro dos Segredos, # 12
Reflexões: www.youtube.com/embed/D57NTsAfhCY 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

CONTO PROPAROXÍTONO

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo seencontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula: ele não perdeu o ritmo e sugeriu um longo ditongo oral, e quem sabe, talvez, uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta dela inteira. Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular (...)
Agora, quem coloca ponto final sou eu. Ou melhor: coloco dois. Um, é para não perder a mania. Outro, é porque isso é um conto rápido, e não uma oração adjetiva explicativa.

(Redação feita por uma aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.)

RESPOSTAS

Com muita frequência costumamos pedir respostas em nossas preces, mas estamos tão ocupados tocando a vida que não as ouvimos. Acho que as orações mais eficazes não são feitas a partir das palavras que proferimos, mas do silêncio que mantemos.
Pedir respostas não é suficiente. Precisamos estar abertos para ouvir as mensagens que nossa alma nos envia.

Pleyer: www.youtube.com/embed/a69K: FAdUhIk

O VERBO


UM TEMPO, DOIS TEMPOS E METADE DE UM TEMPO.
O amor: www.youtube.com/embed/7eQS5yjTYzk
Escrituras: www.theapocalypse120.blogspot.com.br

1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
10 mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

Coríntios 1: 13

QUEM DISSE QUE SER ADULTO É FÁCIL?

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa: – Ah, terminei o namoro… – Nossa, estavam juntos há tanto tempo… – Cinco anos…. que pena… acabou… – é… não deu certo… Claro que deu!

Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.

Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro? E não temos essa coisa completa. Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama. Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel. Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador. Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível. Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele. Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona…

Acho que o beijo é importante… e se o beijo bate… se joga… se não bate… mais um Martini, por favor… e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar… ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.

O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa realmente gostar, ela volta. Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob pressão? O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração… Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo. E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse… A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias. Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. E nem todo sexo bom é para descartar… ou se apaixonar… ou se culpar…

Enfim…quem disse que ser adulto é fácil?

ARNALDO JABOR

SER OU NÃO SER DE NINGUÉM?

Na hora de cantar, todo mundo enche o peito nas boates e gandaias, levanta os braços, sorri e dispara: “… eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também…”

No entanto, passado o efeito da manguaça com energético, e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração tribalista se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.
A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois?

Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, de que toda ação tem uma reação? Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo – beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja, é preciso comer o bolo todo e, nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.

Embora já saibam namorar, os tribalistas não namoram. “Ficar” também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é “namorix”. A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada.

Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim, como só deseja a cereja do bolo tribal, enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas, e a troca de cumplicidade, carinho e amor.

Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar.

Já dizia o poeta que amar se aprende amando. Assim, podemos aprender a amar nos relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos.

E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento… É arriscar, pagar para ver e correr atrás da tão sonhada felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.

Ser de todo mundo, não ser de ninguém, é o mesmo que não ter ninguém também… É não ser livre para trocar e crescer… É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida SOLIDÃO… Seres humanos são anjos de uma asa só, para voar têm que se unir ao outro.

Arnaldo Jabor

AH... O AMOR!!!

Quando você entra muda tudo, a casa fica diferente, as cadeiras se movem, os vasos de rosa voam no ar, as mesas rodam, rodam e eu começo a perder o controle da minha solidão; sozinho eu me seguro, mas você chega e eu danço, pois você sabe mil truques para me jogar do abismo…

você chega e o terrível perigo do Outro se desenha; você é um ponto de interrogação, uma janela aberta para o ar, um copo de veneno, você é meu medo, o mar fica em ressaca, fico à beira do riso e das lagrimas, perto do céu e perto do crime, um relógio de briga começa a contar os segundos da luta, uma multidão de fantasmas de terno e gravata me assiste com o coração sangrando, perco o controle e entramos os dois num barco em alto-mar, à deriva.

Arnaldo Jabor

PARA SEMPRE!

Você não precisa mais de chocolate. Você arrumou um novo amor. Agora você tem um cidadão que te causa o mesmo efeito. Que te dá uma sensação boa pelo corpo inteiro. Que te dá energia e que te dá gosto. Que dá gosto de olhar, de tocar, de sentir, de beijar. Ele dirige bem seu carro, seu corpo e, se sua vida fosse um filme, ele poderia ser o diretor. Ou o personagem principal.

Ele escreve as coisas mais lindas que você já leu e, mesmo assim, ele consegue ler seus textos cheios de clichês. E ele é meio clichê do seu lado. Ele fala que te adora. Te chama de linda. Diz que te quer pra sempre.

Mas enquanto o pra sempre não chega, você quer aproveitar cada segundo do lado dele. Você queria não ter hora pra ir embora. Você queria que ele não fosse embora. Você só queria rir com ele à noite inteira. E queria que a noite inteira não tivesse fim. Pra vocês falarem besteiras. Pra jogar conversa fora. Pra você falar das coisas fúteis sem parecer estúpida. Pra ele rir porque o álcool é intolerante a você.

A noite é sempre perfeita. Você bebe uma ou duas doses da sua bebida favorita e ri horrores. Ri porque se diverte com ele. Ri porque ele consegue ser mais bobo que você. Ri porque não entende como pode ser tão gostoso estar do lado daquele cara que nada sabe sobre você e gosta da sua companhia mesmo assim. Ri porque está feliz com tão pouco. Está feliz de estar ali. E queria estar ali pra sempre. Você ri porque ele não é nada daquilo que você imaginou pra sua vida. Mas ele te convence, sem palavras, de que é o cara perfeito pra você. E faz com que tudo que você viveu antes dele pareça tão morno. Faz com que os outros caras que já passaram pela sua vida pareçam tão pouco.

Ele admira seu sorriso. Diz que seu corpo é lindo. Adora seu cabelo. Suas pernas. Beija sua mão. Beija seu rosto com um carinho ingênuo. Toca sua pele e faz você se sentir uma adolescente. Ele te abraça e muda o ritmo da sua respiração. Porque, na verdade, ele mudou sua vida. Ele não fez nada pra isso, mas te faz a pessoa mais feliz do mundo. Você não quer mais nada dessa vida. Quer ele. E só. Quer ele te abraçando com aquela mão macia. Com aquele corpo quente. Aqueles olhinhos brilhando do seu lado. Aquele olhar que fala sem palavras. Aquele sorriso mais do que fofo. Aquele cara que chegou e te rendeu sem o mínimo esforço. Por quem você abandonaria todos os outros caras interessantes que te ligam sábado à noite. Deletaria do seu celular todos os números de telefone. Por quem você largaria todas as outras propostas. Arriscaria começar tudo de novo. Ele é o cara pra quem você olha e pensa: fica na minha vida pra sempre?

Brena Braz

OS PLANOS QUE A GENTE FAZ E DESFAZ

Amar dói. Cada paredezinha do corpo. Como se existisse mais de um coração batendo ali dentro. É uma febre. Uma febre que queima de dentro para fora. Um jeito que o organismo encontrou para avisar sobre a existência de um invasor desconhecido. ”Ei, tem alguém querendo ocupar o espaço da sua felicidade. Não, espera, parece que ele só quer protegê-la. Multiplicá-la. Acaricia-la quando tudo aí fora estiver desmoronando.” Isso, meus caros, é amor.

É um milagre, mas só isso não basta. Nunca bastou. Até onde eu sei, dizer palavras bonitas e ganhar cafuné antes de dormir não é nenhum tipo de desafio. E amar é o maior desafio que nós enfrentamos enquanto humanos, nesse mundo. É complexo. Porque trabalhar oito horas por dia é cansativo. Estudar cinco dias por semana é um saco. Já para suportar um sentimento nobre e real dentro do peito, não existe hora. Muito menos férias ou feriado. Ele está dentro de você. Do momento em que abre os olhos ao momento em que finalmente consegue vencer a insônia. Alguns dias, também dá as caras nos sonhos. E nos pesadelos.

O amor vem dentro de uma pequena caixa. Vem acompanhado. Com ciúmes, a insegurança e a intimidade. Cada pessoa abre de um jeitinho diferente. Alguns gritam e compartilham com o mundo. Outros jogam o pacote longe e correm o mais rápido que pudem. Os corajosos que se arriscam e vão em frente, precisam de uma espécie de manual para usá-lo da maneira correta. Não é um papel que vem junto ou pode ser encontrado no google. São leis que nascem com a gente. Admiração, respeito e honestidade. Sem ele a caixa não vale para nada. Talvez para alcançar alguma coisa. Para ocupar um espaço vazio. Mas no final das contas, é só uma caixa maciça e sem valor.

O amor não gosta de contratos. Alianças de ouro não servem como moeda de troca. Ele não dá a mínima para cor, idade ou classe social. Se tentar, vai ver que é impossível obrigar alguém a entender e aceitar um sentimento. Também, se despedaçado, não volta jamais a ser como antes. As feridas não cicatrizam, elas param de doer. Mas as marcas ficam lá. Como queimaduras que jamais deixaram de despertar lembranças ruins. Ou se você olhar de um outro jeito, necessárias.

Promessas não garantem um final feliz, pleno e definitivo. Cada pessoa tem seu tempo e o amor não dá a mínima para o ponteiro do relógio. Passam dias, passam meses e os planos? Fazem e se desfazem o tempo todo. Por bem, ou para o bem. Já você, minha querida, continua inteira. Portanto, trate já de fechar essa caixa vazia e guardar pertinho das outras. A felicidade logo se acostuma com o espaço que sempre teve.

Bruna Vieira

MAIS AMAR!!!

Ter amor é muito fácil, é só se apaixonar em um café, em uma balada, em um aplicativo, em uma rede social. É só se envolver por meia dúzia de fotos e palavras trocadas. É fácil ter amor, difícil é saber o que fazer com ele. E isso a gente faz bem, muito bem.

A sinergia faz com que nos amemos mais. Dormir juntos e sentir o prazer de ter o corpo abraçado a noite inteira, até que a gente deixe de ser conchinha para se tornar pérola. Acordar no meio da noite e me deparar na cama com você é como ter a certeza de que escolhi o colchão e travesseiro perfeitos.

Quando estamos longe, não é a distância que incomoda, é a falta. A falta de te ter por perto, ainda que seja para cada ficar na sua, sem trocar palavras, nem olhares, só energia. E até o próximo encontro, nos acostumamos a conviver com a falta, pois sabemos que não vai faltar “a gente” quando o dia de ficarmos chegar.

Quando estamos juntos, temos muito mais do que amor. Temos motivos para amar.

O PRIMEIRO ENCONTRO COM O AMOR

Quando é amor, nunca temos certeza. Os indícios 
apontam, os ânimos se exaltam e o corpo responde. Eu te disse que dessa vez seria amor. Talvez você estivesse predestinado, mesmo não acreditando que amor seja ato do destino, mas da energia de quando se quer amar. E dessa vez você queria. Das outras vezes o amor era tanto que nem conseguia ser amor. Em um dos casos, o alicerce do relacionamento era a carência, a vanglória, a dependência psicológica de ambos. Não era amor, não era amar, eram pequenos luxos materiais conciliados com a falta de um sentimento real. A luxuria e a falta não se relacionam com o amor.

Em outro momento, em outra pessoa, encontrou-se o amor na fraqueza emocional. A personalidade desviada, a crise de identidade e a inconstância do ser deram o suporte a esse relacionamento. O amor era pautado em uma mente debilitada, que sugava as emoções de terceiros para enganar as próprias. No final, a matéria ficou em dívida e a alma levou a culpa. O erro de quem julga que ama é culpar o amar. Neste momento, sem muito ver e sem muito especular, só posso dizer que é amor. A carência foi traduzida em companheirismo, o luxo em simplicidade, a falta de identidade em personalidade, a dívida em crédito, a culpa em conformismo, o amor em amar. E se é amor, jamais terei certeza. Mas que se está amando, isso não há como errar.

Bruno Ernica

ETERNAS PESSOAS

Algumas pessoas se destacam para nós (...) Não importa quando as encontramos no nosso caminho. Parece que estão na nossa vida desde sempre e que mesmo depois dela permanecerão conosco. É tão rico compartilhar a jornada com elas que nos surpreende lembrar de que houve um tempo em que ainda não sabíamos que existiam. É até possível que tenhamos sentido saudade mesmo antes de conhecê-las. O que sentimos vibra além dos papéis, das afinidades, da roupa de gente que usam. Transcende a forma. Remete à essência. Toca o que a gente não vê. O que não passa. O que é (...) Com elas, o coração da gente descansa. Nós nos sentimos em casa, descalços, vestidos de nós mesmos. O afeto flui com facilidade rara. Somos aceitos, amados, bem-vindos, quando o tempo é de sol e quando o tempo é de chuva. Na expressão das nossas virtudes e na revelação das nossas limitações. Com elas, experimentamos mais nitidamente a dádiva da troca nesse longo caminho de aprendizado do amor.

Ana Jácomo

A MULHER QUE SABE AMAR

A mulher que sabe amar é mestra do homem. Jamais governanta. 
Não irrompe nem interrompe. Chega suave. 
Conhece a sua superioridade e os limites desta. 
Sabe ser mãe e ser um furor na cama.
Jamais se deixa subjugar. Nem subjuga.
Sabe que não basta ter razão. Precisa saber ter razão.
É o ser mais elevado que há na terra.
Cala quando sabe não ser compreendida e fala na hora certa.
Jamais diz: eu não falei que não ia dar certo.
Compreende os filhos e sem pretender ensina amor ao marido.
Por ser superior não se preocupa em mandar.
Sabe obedecer cegamente: ou compartilha ou se separa.
Sabe tanto de moda quanto de arte.
Educa sem reprimir e orienta sem impor.
Fala baixo, não usa perfumes exagerados e ama a alma. A mulher que sabe amar Conversa com Deus e partilha com a família,
Sente sua máxima realização quando amamenta.
Tem orgasmo, é abençoada pela bondade.
Não faz alarde de sua superioridade sobre o homem.
É a responsável pela sobrevivência da espécie humana.
Jamais ouvirá de seu marido a frase: Eu não tenho opiniões: tenho esposa.

Artur da Távola

A FITA MÉTRICA DO AMOR

Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.

Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.

É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.

Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho.

Martha Medeiros

A IDADE DE CASAR

O amor pode surgir de repente, em qualquer etapa da vida, é o que todos os livros, filmes, novelas, crônicas e poemas nos fazem crer. É a pura verdade. O amor não marca hora, surge quando menos se espera. No entanto, a sociedade cobra que todos, homens e mulheres, definam seus pares por volta dos 25 e 30 anos. É a chamada idade de casar. Faça uma enquete: a maioria das pessoas casa dentro dessa faixa etária, o que de certo modo é uma vitória, se lembrarmos que antigamente casava-se antes dos 18. Porém, não deixa de ser suspeito que tanta gente tenha encontrado o verdadeiro amor na mesma época.

O grande amor pode surgir aos 15 anos. Um sentimento forte, irracional, com chances de durar para sempre. Mas aos 15 ainda estamos estudando. Não somos independentes, não podemos alugar um imóvel, dirigir um carro, viajar sem o consentimento dos pais. Aos 15 somos inexperientes, imaturos, temos muito o que aprender. Resultado: esse grande amor poderá ser vivido com pressa e sem dedicação, e terminar pela urgência de se querer viver os outros amores que o futuro nos reserva.

O grande amor pode, por outro lado, surgir só aos 50 anos. Você aguardará por ele? Aos 50 você espera já ter feito todas as escolhas, ter viajado pelo mundo e conhecido toda espécie de gente, ter uma carreira sedimentada e histórias pra contar. Aos 50 você terá mais passado do que futuro, terá mais bagagem de vida do que sonhos de adolescente. Resultado: o grande amor poderá encontrá-lo casado e cheio de filhos, e você, acomodado, terá pouca disposição para assumi-lo e começar tudo de novo.

Entre os 25 e 30 anos, o namorado ou namorada que estiver no posto pode virar nosso grande amor por uma questão de conveniência. É a idade em que cansamos de pular de galho em galho e começamos a considerar a hipótese de formar uma família. É quando temos cada vez menos amigos solteiros. É quando começamos a ganhar um salário mais decente e nosso organismo está a ponto de bala para gerar filhos. É quando nossos pais costumam cobrar genros, noras e netos. Uma marcação cerrada que nos torna mais tolerantes com os candidatos à cônjuge e que nos faz usar a razão tanto quanto a emoção. Alguns têm a sorte de encontrar seu grande amor no momento adequado. Outros resistem às pressões sociais e não trocam seu grande amor por outros planos, vivem o que há pra ser vivido, não importa se cedo ou tarde demais. Mas grande parte da população dança conforme a música. Um pequeno amor, surgido entre os 25 e 30 anos, tem tudo para virar um grande amor. Um grande amor, surgido em outras faixas etárias, tem tudo para virar uma fantasia.

Martha Medeiros

QUEREMOS TANTO!


Na vida, a princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos
desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.

Martha Medeiros

A ENTREGA

Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo até modesto.

O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja pra assistir em casa, no DVD. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um objetivo na vida. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.

Aí a vida bate à sua porta e entrega um amor que não tem nada a ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, adeus.

E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você havia solicitado, mas a vida, que é péssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse nonsense, esse amor que você desconfia que não lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica, não se experimenta em loja – ah, este me serviu direitinho!

Aquele amor corretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém que despreza amores corretos, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, um prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor que você encomendou não veio, parabéns! Agradeça e aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.

Martha Medeiros

O AMOR

Buscamos o amor nos bares, na internet, nas paradas de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas platéias dos teatros. Ele certamente está por ali, você quase pode sentir seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade. Há quem acredite que o amor é medicamento. Pelo contrário. Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproxima, e caso o faça, vai frustrar sua expectativa, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza, ele não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima. Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: "Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu." Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem de si mesmas. O Amor, ao contrário do que se pensa, não tem de vir antes de tudo. Antes de estabilizar a carreira profissional, antes de fazer amigos, de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir de seu surgimento, tudo o mais dará certo. Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando, na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir, sem máscara e sem fantasia. É esta a condição. É pegar ou largar. Para quem acha que isso é chantagem, arrisco-me a sair em defesa do amor: ser feliz é uma exigência razoável, e não é tarefa tão complicada. Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem.
Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados. O amor é o prêmio para quem relaxa.

Martha Medeiros

NAMORO A DISTÂNCIA

Namorar a distância é como se estivéssemos no topo de um abismo, porém, cada um de um lado. Estávamos tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Mas mesmo estando tão distantes, sentíamos a presença um do outro. Decidir pular é a única opção para que possamos ficar juntos, mesmo sabendo que se não houver um riacho lá embaixo, isso poderá não terminar bem. Quando abrimos os olhos nos damos conta que estamos sendo levado pela correnteza, quase afundando e cheio de pedras no caminho, até que nos estendemos as mãos e nos seguramos. E esse momento, esse é o momento de nossas vidas, permanecer firmes sob a correnteza e as pedras no caminho, um segurando o outro para não afundar, e isso meu caro, isso é um namoro a distância.

INTIMIDADE: PRÓS E CONTRAS


As pessoas dissecam o casamento. Dizem que o amor mingua, que o sexo começa a rarear, que a
rotina é acachapante. Dizem, dizem, mas as pessoas seguem casando e mantendo-se casadas por quilométricos anos. Qual é a boa dessa história? Uma jóia chamada intimidade. Íntimos, muitos acreditam, são duas pessoas que possuem relações físicas e emocionais entre si. É bem mais que isso. Intimidade é você não precisar verbalizar tudo o que pensa, é aceitar a solidão do outro, é estarem familiarizados com o silêncio de cada um. Intimidade é não precisar estar linda em todos os momentos, não precisar ser coerente em todas as atitudes, é rirem juntos de uma história que só eles conhecem o final.

Intimidade é ler os olhos, os lábios e as mãos de quem está com você. Mais do que repartir um endereço, é repartir um projeto de vida. Não basta estar disponível, não basta apoiar decisões, não basta acompanhar no cinema: intimidade é não precisar ser acionado, pois já se está mentalmente a postos.

Intimidade é não ter vergonha de ser o que a gente é, não precisar explicar coisa alguma, ser compreendido e brigar sabendo que nada irá se romper. Intimidade é não precisar andar na ponta dos pés pelos corredores de uma vida compartilhada.

Muitos mantém-se casados por causa desse idílio que é não precisar se anunciar todo dia como um investimento seguro, podendo inclusive usar aquelas camisetas puídas e comer o "s" de um palavra no plural sem que a sua cotação desabe. Só há uma coisa ruim na intimidade: a falta que faz um pouco de cerimônia.

Calcinhas penduradas no banheiro, o telefonema sempre na mesma hora da tarde, o arroto que dispensa o pedido de desculpas, o lençol amarfanhado, a TPM todo santo mês, o mesmo perfume, as mesmas reações, o mesmo cardápio. O lado negro de um matrimônio feliz.

O casamento dá uma intimidade rara, apaziguadora, salutar. Não há máscaras nem teatro: é o habitat natural de um homem e de uma mulher que se querem como são. A intimidade salva as relações extensas, a não ser quando as corrói. Contradição maquiavélica. O melhor e o pior dos mundos, nos obrigando a escolher entre o habitual e a novidade, entre a paz e a adrenalina, entre a rede e o salto. Sedução x segurança: que vença o melhor.

Martha Medeiros

A IMPONTUALIDADE NO AMOR


Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.

Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?

Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.

A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir “eu te amo” num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir “eu te amo” numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

Martha Medeiros

RELAÇÕES VIRTUAIS

Acredito que é possível conhecer alguém por e-mail, se apaixonar por e-mail, odiar por e-mail, tudo isso sem jamais ter visto a pessoa. As palavras escritas no computador podem muito. Mas nem sempre enxergam a verdade.
São sete horas de uma manhã chuvosa. Você não dormiu bem à noite. Põe pra tocar um som instrumental que deixa suas emoções à flor da pele. Vai para o computador e começa a escrever para alguém especial as coisas mais íntimas que lhe passam no coração. Chora. Escreve. Olha para a chuva. Escreve mais um pouco. Envia.
São onze horas da noite deste mesmo dia. O destinatário da sua mensagem está dando uma festa. Todo mundo fala alto, ri muito, rola a maior sonzeira. Ele pega uma cerveja e dá uma escapada até o computador. Abre o correio. Está lá a mensagem. Um texto longo que ele lê com pressa. Destaca algumas palavras: "a saudade é tanta... sozinha demais... dividir o que sinto..." Papo brabo. Responderá amanhã. Deleta.
Alguém pode escrever com raiva, escrever com dor, escrever com ironia, escrever com dificuldade, escrever debochando, escrever apressado, escrever na obrigação, escrever com segundas intenções. Nada disso chegará no outro lado da tela: a pressa, a hesitação, a tristeza. As palavras chegarão desacompanhadas. Será preciso confiar no talento do remetente em passar emoção junto de cada frase. Como pouquíssimas pessoas têm esse dom, uma mensagem sensível poderá ser confundida com secura, tudo porque faltou um par de olhos, faltou um tom de voz.
Se você passou a desprezar alguém, pode escrever "não quero mais te ver". Se você ama muito alguém, mas a falta de sintonia lhe vem machucando, pode escrever "não quero mais te ver".
Uma mesma frase e duas mensagens diferentes. Palavras são apenas resumos dos nossos sentimentos profundos, sentimentos que para serem explanados precisam mais do que um sujeito, um verbo e um predicado. Precisam de toque, visão, audição. Amor virtual é legal, mas o teclado ainda não dá conta de certas sutilezas.

Martha Medeiros

FILOSOFIA PARA A VIDA PRÁTICA

O Homem enjoa de tudo, porque a felicidade não está nas coisas exteriores.

Pascal. Físico, Matemático e Filósofo. 

Não era psicólogo, mas poucas pessoas conheceram tão bem a natureza humana como Pascal. Ele conhecia-se a si mesmo e aos outros.

A única vergonha é não ter vergonha.

É uma coisa terrível sentir escoar tudo o que se possui.

Reconheçamos nossas forças: somos alguma coisa e não tudo.

Trabalhamos incessantemente para embelezar e conservar nosso ser imaginário, negligenciando o verdadeiro.

O homem não passa de um caniço, o mais débil da natureza. Porém, é um caniço pensante.

A grandeza do homem é grande na medida em que ele se considera miserável.

Somos capazes de passar rapidamente da presunção desmedida para um horrível abatimento de coração.

Os homens instruídos -- os filósofos -- espantam os homens comuns. Os cristãos, por sua vez, espantam os filósofos.

A grandeza tem necessidade de ser perdida para ser sentida. A continuidade em tudo é desagradável.

O homem não é anjo, mas animal. Quem pretende ser anjo precisa, primeiro, saber que é animal.

Somos cheios de coisas que nos empurram para fora de nós mesmos.
A fim de que a paixão não nos seja nociva, façamos de conta que temos apenas oito horas de vida.

É perigoso conhecer Deus sem conhecer a própria miséria e conhecer a própria miséria sem conhecer Deus.

Os eleitos ignorarão suas virtudes e os reprovados ignorarão a grandeza de seus crimes.
Queremos a simetria apenas em largura e não em altura nem em profundidade.

A vontade nunca se satisfaz enquanto não tenha tudo o que almeja. Mas ela se satisfaz no instante em que a tudo renuncia.

É supersticioso quem coloca suas esperanças nas formalidades e cerimônias religiosas. Mas é soberbo não querer a elas se submeter.

É um grande mal seguir a exceção no lugar da regra. É preciso ser severo e contrário à exceção.

Se a misericórdia de Deus é tão grande que ela se esconde, o que devemos esperar quando ela não mais se esconder?

Afastemos a impiedade e a alegria ficará sem mancha.

Não há tão grande desproporção entre a unidade e o infinito senão entre a nossa justiça e a justiça de Deus.

Muito barulho assusta, muita luz ofusca, muito prazer incomoda, muita mocidade ou muita velhice embota o espírito. Muita instrução bestifica.

Se os plebeus tivessem sido todos convertidos por Jesus Cristo, só teríamos testemunhas suspeitas. Se tivessem sido todos exterminados, não teríamos testemunhas.

O CONHECIMENTO DE SI PRÓPRIO

Vosso coração conhece em silêncio os segredos dos dias e das noites; mas vossos ouvidos anseiam por ouvir o que vosso coração sabe.
Desejais conhecer em palavras aquilo que sempre conhecestes em pensamento.

Quereis tocar com os dedos o corpo nu de vossos sonhos.
E é bom que o desejeis.
A fonte secreta de vossa alma precisa brotar e correr, murmurando, para o mar; e o tesouro de vossas profundezas ilimitadas precisa revelar-se a vossos olhos.
Mas não useis balanças para pesar vossos tesouros desconhecidos; e não procureis explorar as profundidades de vosso conhecimento com uma vara ou uma sonda, porque o Eu é um mar sem limites e sem medidas.
Não digais: ‘Encontrei a verdade.’ Dizei de preferência: ‘Encontrei uma verdade.’
Não digais: ‘Encontrei o caminho da alma.’ Dizei de preferência: ‘Encontrei a alma andando em meu caminho.’
Porque a alma anda por todos os caminhos.
A alma não marcha numa linha reta nem cresce como um caniço.
A alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras pétalas.

Khalil Gibran

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

QUANDO EU SABIA DEMAIS

Dark Night: www.youtube.com/embed/MclLF473XtA

Quando eu nada ou pouco sabia do mundo, trabalhava intensamente.
Minha vida era uma vida militante, dinamicamente realizadora, graças à minha feliz ignorância. 
Depois, quando cheguei a saber da verdade, quando soube que todas as coisas do mundo são apenas miragens no deserto, espelhos e enigmas, sonhos e sombras, ecos e reflexos irreais da ignota realidade - Desisti das minhas atividades, cruzei os braços, e fiz-me passivo espectador do Teu grandioso drama cósmico, Senhor do Universo...Sentia-me qual pequenina formiga no teu gigantesco Himalaia...
Que diferença havia entre agir e não-agir? Entre atividade e passividade?
Poderia, acaso, esta vil formiguinha modificar os teus imensos Himalaias?...
Para que trabalhar e lutar, se tudo corre segundo os teus eternos decretos?
Se leis imutáveis regem os teus mundos?...
Desde então, preferi ser passageiro inerte da tua máquina cósmica em vez de ser motorista ativo dessa máquina.
Desde então, desisti da minha velha mania de querer converter alguém... Converter, por que e para quê? Se, no fim, todo homem tem de seguir o caminho que segue?
Desisti também de querer aliviar os sofrimentos dos sofredores.
Aliviar, por que e para quê? Se cada devedor tem de saldar o débito do seu Karma?
Que insensatez seria se eu impedisse o devedor de solver o seu débito!
Não será melhor que cada um pague, de vez, à eterna Justiça, o que deve?
Que fique quite com a Constituição Cósmica, do que protelar essa quitação para tempos vindouros?
Deveras! Eu sabia demais...E esse “saber demais” me impedia de agir.
Só age quem sabe pouco, quem sabe muito deixa de agir... Agir é sinal de ignorância e estreita ingenuidade...Assim pensava eu...Assim vivia eu.
Só mais tarde, muito mais tarde, descobri – que sabia de menos... e por isso o meu saber me impedia de agir.
Numa estranha incubação espiritual, de muitos dias e de muitas noites, finalmente, amadureceu em mim a suprema Verdade.
Isolei-me, diuturnamente, do ambiente físico e do ambiente mental... desterrei de mim pessoas e coisas, do meu cérebro profanado, pensamentos, memórias, fantasias, converti em silencioso santuário do Infinito. A ruidosa praça pública do meu cérebro, e dentro deste grande silêncio da matéria e da mente focalizei intensamente o meu divino Eu...
Tão grande foi o calor dessa focalização, que se derreteram em mim todas as matérias-primas...e, quando tudo estava liquefeito – O meu tácito pensar, o meu ativo dinamismo ocidental e o meu passivo misticismo oriental – Então, todos os elementos, em liquefeita ignição, se fundiram numa nova unidade, que não era Aquém nem do Além, não era mera justaposição, mas algo novo, Inédito e inaudito, uma unidade orgânica, virgem, como a alvorada cósmica de um novo mundo, ainda aljofrado do orvalho noturno e um divino “fiat” creador...E dessa fusão do meu velho materialismo dinâmico e do meu novo espiritualismo místico,
Nasceu a estupenda maravilha do homem integral, da nova criatura em Cristo...
Da fusão da minha horizontal ativa e da minha vertical passiva, surgiu o emblema da universalidade, o símbolo da redenção...e eu me senti remido do meu esfalfante dinamismo, e do meu inoperante misticismo.
Entrei na atmosfera de um mundo ignoto, na zona do dinamismo passivo, da passividade dinâmica...
A minha nova mística sacralizou a minha velha dinâmica, e a minha dinâmica vigorizou a minha nova mística...
Hoje sou mais dinâmico do que nunca, mas o meu agir é diferente daquele, não é ruidoso como o martelar de uma fábrica dominada por fumegantes chaminés – Mas é silencioso como a luz solar, como o agir do gigantesco astro, Assaz, poderoso para lançar pelo espaço, estupendos sistemas planetários, e assaz carinhoso para beijar as pétala duma flor sem as lesar...
O meu agir é misticamente dinâmico, e dinamicamente místico. Um agir pelo não-agir. Um agir pelo Ser, brota duma dimensão ignota – Da zero dimensão do Infinito.
Anteontem, a ignorância me fizera ativo. Ontem, a mística me fizera passivo – Hoje, a experiência cósmica me faz ativamente passivo, e passivamente ativo.

A Voz do Silêncio - Huberto Rohden

O MUNDO ALÉM DAS PALAVRAS

"Para mudar a paisagem da vida, precisas mudar o que sentes."
Rumi: www.youtube.com/embed/AB-mHvfe66I


Dentro deste mundo há outro mundo impermeável às palavras.
Nele, nem a vida teme a morte,
nem a primavera dá lugar ao outono.
Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes,
até mesmo as rochas e árvores exalam poesia.
Aqui, a coruja transforma-se em pavão,
o lobo, em belo pastor.
Para mudar a paisagem,
basta mudar o que sentes;
E se queres passear por esses lugares,
basta expressar o desejo.
Fixa o olhar no deserto de espinhos.
– Já é agora um jardim florido!
Vês aquele bloco de pedra no chão?
– Já se move e dele surge a mina de rubis!
Lava tuas mãos e teu rosto
nas águas deste lugar,
que aqui te preparam um fausto banquete.
Aqui, todo o ser gera um anjo;
e quando me veem subindo aos céus
os cadáveres retornam à vida.
Decerto vistes as árvores crescendo da terra,
mas quem há de ter visto o nascimento do Paraíso?
Viste também as águas dos mares e dos rios,
mas quem há de ter visto nascer
de uma única gota d’água
uma centúria de guerreiros?
Quem haveria de imaginar essa morada,
esse céu, esse jardim do paraíso?
Tu, que lês este poema, traduze-o.
Diz a todos o que aprendeste 
sobre este lugar. 

CASAMENTO NA IGREJA

Tem gente que acha careta, tem gente que acha um luxo. A verdade é que ninguém é indiferente a uma cerimônia de casamento realizada na igreja, com direito a tapete vermelho, marcha nupcial, véu e grinalda. A maioria das garotas sonha com esse momento, o de ser entregue ao noivo pelas mãos do pai e de vestido branco, mesmo que essa simbologia tenha perdido o significado. Os futuros cônjuges podem estar dividindo o mesmo teto há meses e até ter um filhinho, quem se importa? A verdade é que casamento na igreja é um rito de passagem, um momento de bênção e de satisfação à família, aos amigos e à sociedade. O amor pode prescindir desse ritual todo, mas um pouco de pompa e circunstância não faz mal a ninguém.

Já que o casal optou pelo sacramento do matrimônio e quer fazê-lo diante de Deus, o mais seguro é não inovar. Nada de entrar na igreja sob os acordes da trilha sonora do Titanic, casar de vermelho e decorar a igreja com cactus. Você não está numa passarela do Dolce & Gabanna, está na capelinha da sua paróquia: Mendelssohn, velas, copos-de-leite e uma boa Ave-Maria na saída, quer coisa mais chique e inatacável?

Se eu tivesse casado na igreja seria a mais convencional das noivas. Só uma coisa eu tentaria mudar, ainda que levasse um sonoro não: o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até os fins dos seus dias?" Nossa, não é tempo demais? Bonito, mas dramático. Os noivos saem da igreja com uma argola de ouro no dedo e uma bola de chumbo nos pés. Seria mais alegre e romântico um discurso assim:

Ela: "Prometo nunca sair da cama sem antes dar bom-dia, deixar você ver os jogos de futebol na tevê sem reclamar, ter paciência para ouvir você falar dos problemas do escritório, ter arroz e feijão todo dia no cardápio, acompanhar você nas caminhadas matinais de sábado, deixá-lo em silêncio quando estiver de mau humor, dançar só pra você, fazer massagens quando você estiver cansado, rir das suas piadas, apoiá-lo nas suas decisões e tirar o batom antes ser beijada".

Ele: "Prometo deixar você sentar na janelinha do avião, emprestar aquele blusão que você adora, não reclamar quando você ficar quarenta minutos no telefone com uma amiga, provar a comida tailandesa que você preparou, abrir um champanhe no final de tarde de domingo, assistir junto o capítulo final da novela, ouvir seus argumentos, respeitar sua sensibilidade, não ter vergonha de chorar na sua frente, dividir vitórias e derrotas e passar todos os Natais do seu lado".

Sim, sim, sim!!!

Martha Medeiros