Viver pelo bem que existe no mundo!

Na verdade nem deveríamos estar aqui, mas estamos. São como nas grandes histórias. As que tinham mesmo importância. Eram repletas de escuridão e perigo. E às vezes, você não queria saber o fim.... Porque como podiam ter um final feliz? Como podia o mundo voltar a ser o que era depois de tudo isso? Mas, no fim, é só uma coisa passageira, que logo se transformará. Um novo dia virá. E quando o sol brilhar, brilhará ainda mais forte. Eram essas as histórias que ficavam nas lembranças, que significavam algo. Mesmo que você fosse pequeno demais para entender o por quê. Mas acho, que entendo, sim. Agora eu sei. As pessoas dessas histórias tinham várias oportunidades de voltar atrás mas não voltavam. Elas seguiam em frente, porque tinham no que se agarrar. - E nós, no que devemos nos agarrar? No bem que existe nesse mundo, pelo qual vale a pena lutar. Senhor dos Anéis.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O BRANCO QUE PASSA EM BRANCO

O homem tem uma séria desvantagem na praia em relação à mulher. O que justifica o nosso descaso para permanecer horas a fio em cadeira reclinada à beira do mar.
Não tem nexo tomar sol, expor-se aos raios como se a pele fosse um livro para ser trocado de página pelo vento.
Não há significado algum em banhar-se de luz de costas e de frente, simetricamente.
Não existe justiça para o trabalho masculino de se bronzear.
A mulher é valorizada pela marca branquinha que fica do biquíni; já o homem não, de modo algum.
É uma desigualdade estética, social e política.
Homem é apaixonado, louco, enfeitiçado por aquela região que evoca o líquido corretivo do papel. Tece homenagens, rilha os dentes, oferece piruetas de cachorro pidão quando ela se entremostra. Reconhece a glória da pele albina debaixo dos trajes, que determina o quanto ela se queimou e o quanto estava branca, que auxilia na comparação do antes e do depois, que pode ser demonstrada pela parte de cima ou pela parte de baixo do biquíni.
Por sua vez, a mulher não dá a mínima para o nosso branco ao tirar a sunga ou a bermuda. Ela ri. Ela debocha. Ela inventa piadas.
– Olha como está branquinho! – e aponta.
Não está excitada, não é uma reação de arrebatamento e volúpia, de morder os lábios e imaginar safadezas.
Desponta inofensivo como o focinho de um ursinho de pelúcia. É um detalhe bonitinho e fofo e querido e mimoso, nada a acrescentar na fantasia a dois.
Não tem a gravidade de um enredo picante, o combustível visual de uma atração fatal.
O branco nas coxas do macho não excita as fêmeas, não entra no ranking dos cinquenta e um tons de cinza. Não provoca nenhum frisson, não é um fetiche sexual e um afrodisíaco.
A sunga não será uma peça disputada nas últimas rodas do strip poker, talvez caia nas primeiras rodadas do truco.
Elas não chegam perto e sussurram:
– Posso espiar?
Longe de repetir nossa avidez e malícia para conferir a diferença da cor e o contraste.
Não compreendo o motivo. Temos tão poucos atrativos para esnobar. Não pintamos as unhas, não hidratamos os cabelos, não corrigimos as sobrancelhas, não nos depilamos.
Deixem-nos a sensualidade da marca da sunga, por compaixão.

Fabrício Carpinejar